28/06/2004 as 22:51. Terça-feira.
Quando paro para analisar o conceito de tempo, o desespero me inunda. Sinto o tempo brincar entre meus dedos e escorregar, fazendo com que eu sempre esteja correndo atrás de algo. Porém, também me invade a vontade de viver. Viver sem pressa, sem medo do tempo, sem restrições.
Como seria se a gente só vivesse?
Viver sem medo de ser feliz ou de fazer alguém feliz, viver sem egoísmo e sem traumas. Viver por viver.
Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. (Oscar Wilde).
E a existência nos consome ao mesmo tempo que nos preenche. Buscamos a nossa essência e nos contentamos com a nossa existência. "A existência precede a essência", Camus disse.
Antes, a questão era descobrir se a vida precisava de ter algum significado para ser vivida. Agora, ao contrário, ficou evidente que ela será vivida melhor se não tiver significado. (Camus).
Será que é tão difícil encontrar a nossa essência e viver por ela? O que é essência por natureza?
Eu sempre acabo voltando a Lalande. E sempre volto para a Clarice. Ela me entende e me faz entender como ninguém. Nunca alguém disse tanto com tão poucas palavras.
Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
(Clarice)
Não quero somente a liberdade de viver. Quero algo que vai além.
Algo que não me encha de culpa, algo que não resulte em consequências ruins, algo que eu possa simplesmente viver sem me preocupar se estou vivendo certo.
O homem está condenado a ser livre, não é, Camus? A liberdade é uma prisão que nos chama atenção.
Ninguém é livre de verdade. Ninguém vive de verdade. Ninguém existe de verdade.
Somos poeira do cosmo que gira, gira e não encontra significado em nada. Somos energia em atuação. Somos projeções? Somos imaginação? O que somos?
De verdade, já não me interessa as respostas. Decidi que para ser livre, preciso me libertar de tudo aquilo que não sou capaz de descobrir. Entendi que liberdade (no sentido que eu quero) é viver segundo por segundo como se fosse meu último instante para deixar na terra um pedaço de mim.
Não quero uma vida agitada. Quero apenas ser capaz de viver os momentos intensamente e ser capaz de eternizá-los na minha memória que me trai diariamente.
Quero ser capaz de amar, mesmo que eu não seja amada. Quero conhecer pessoas e fazer parte da vida delas, pelo menos por uma fração de tempo.
Quero sorrir sem dor, abraçar sem medo, sentir sem restrição.
Quero sofrer com coragem e superar com resiliência.
Hoje, acordei às 6, cheguei em casas às 17 e vou dormir as 00. Porém, apesar de todo cansaço, hoje foi um dos melhores aniversários que tive, simplesmente porque decidi muita coisa sozinha, aproveitei minha companhia, e fui amada por muitas pessoas. Me senti independente, algo que sempre quis para mim.
Senti que sou capaz de enfrentar o mundo sozinha, sem ninguém. Mas que também tenho pessoas ao meu redor que enfrentariam o mundo comigo.
A felicidade não se compra, não se constrói, ela vem e vai. É um sentimento que nasce e morre em uma fração de segundo. É uma sensação que tentamos segurar, mas que escorre, assim como o tempo.
Porém, a segunda felicidade é uma escolha. Escolher ser feliz é a felicidade mais genuína que existe.
Dá pra ser feliz sem essa felicidade que vem e vai. Mas é preciso escolher a felicidade pra ser feliz genuinamente.